Projetos

Desenvolvimento Rural, trabalho cooperado e subjetividades: estudo sobre a implantação do Microbacias no Sepé Tiaraju (Thainara Granero de Melo)

O modelo de desenvolvimento rural brasileiro tem sido disputado por diferentes visões e interesses que se materializam nas políticas públicas. Nos últimos 30 anos, tais políticas passaram por mudanças resultantes de reivindicações dos movimentos sociais, como também do alinhamento às orientações pautadas por organismos internacionais de controle e regulação, como o Banco Mundial. Os discursos e práticas vigentes nas políticas de desenvolvimento rural, no plano concreto, não se resumem à proposição de projetos específicos com objetivos econômicos, como também se revelam nas diferentes estratégias de controle da ordem social, nas reações ativas e passivas dos trabalhadores rurais para tensioná-las no cotidiano, e nos sentidos atribuídos ao trabalho em cooperação. Portanto, o objetivo desta pesquisa de doutorado será compreender os desdobramentos, objetivos e subjetivos, desta problemática nas experiências de cooperação dos trabalhadores rurais que vivem em assentamentos de reforma agrária. O recorte empírico para analisar este problema será o Assentamento Sepé Tiaraju, SP, no enquadre de sua participação em uma das modalidades do Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS) Microbacias II. Financiado por uma parceria entre Banco Mundial e Estado de São Paulo, o Projeto prevê, em dois anos, a implantação de sistemas agroflorestais (Saf) como modelo produtivo para 35 famílias, e aposta em ações para o fortalecimento de três organizações do assentamento. Este será um processo inédito para os assentados, pois a gestão será compartilhada entre os mediadores externos e as organizações. Este processo será analisado a partir do campo de estudos da Psicologia Social do Trabalho, mas com conceitos da Psicossociologia, para compreender a sua dimensão estrutural, até os significados dos conflitos e negociações entre assentados, organizações e agentes institucionais. O estudo de caso será conduzido por meio de levantamento bibliográfico e documental, observações diretas registradas em diários de campo, entrevistas semiestruturadas individuais e coletivas com os participantes do Projeto, e seminários para a socialização dos resultados com os trabalhadores. A análise será feita pela técnica de triangulação entre o referencial teórico, o levantamento bibliográfico e as diferentes fontes de informações. Os resultados desta análise poderão trazer novos elementos sobre as relações de cooperação nos assentamentos rurais e servir como parâmetro para a construção de um conhecimento comprometido com a avaliação de políticas públicas que melhor atendam aos interesses dos trabalhadores.

 

Trabalho Intensificado: um estudo sobre as representações sociais de gestores do ramo de logística (Ariane Serpeloni Tavares)

A pesquisa tem como objetivo compreender as representações sociais construídas e compartilhadas por trabalhadores sobre suas experiências de trabalho intensificado. O trabalho intensificado é decorrente da adoção de práticas de gestão que promovem maior produtividade para a empresa por meio do aumento do dispêndio das energias físicas, psíquicas e emotivas dos trabalhadores, tais como o prolongamento das jornadas, o aumento do ritmo de trabalho, a gestão por resultados, a adoção de inovações tecnológicas, a polivalência, dentre outras. O trabalho intensificado pode trazer consequências nocivas para os trabalhadores, como, por exemplo, doenças ocupacionais, problemas de saúde e dificuldades de conciliação entre o trabalho e a vida pessoal. Por outro lado, a alta remuneração, o reconhecimento e o medo do desemprego têm sido apontados como fatores de manutenção dos trabalhadores sob estas condições.  Os sujeitos expostos ao trabalho intensificado, inseridos em um contexto cultural e social, constroem e partilham representações sociais sobre a realidade vivenciada, a fim de compreendê-la e posicionar-se frente a ela. Esta pesquisa, de caráter qualitativo, busca compreender o fenômeno do trabalho intensificado e as representações sociais acerca deste, tendo como sujeitos os trabalhadores ocupantes de cargos de liderança de empresas do ramo de logística, mais especificamente do setor de transporte de cargas, que estejam sob condições de trabalho intensificadas. Serão realizadas entrevistas semiestruturadas fora do horário e ambiente de trabalho visando compreender aspectos relacionados ao trabalho intensificado e suas consequências para a vida pessoal e profissional dos trabalhadores. Os relatos dos participantes serão analisados por meio da Análise de Conteúdo Temática.

 

A quantas anda o ethos camponês? Estratégias de reprodução social de jovens rurais (Bruno Lacerra de Souza)

A presente pesquisa em andamento analisa, a partir de entrevistas realizadas com jovens assentados, registradas em trabalho de campo, de que forma, um modo de vida camponês ainda está presente nos projetos de vida e estratégias elaboradas entre os jovens rurais e suas famílias, em dois assentamentos rurais localizados no Estado de São Paulo, o Assentamento Reunidas – Promissão/SP e o Assentamento Sepé Tiaraju – Serra Azul/SP. Em nossas pesquisas de campo percebemos que estamos frente a um mundo rural em transformação e que diversos arranjos são criados para a permanência dos assentados no campo. Esses arranjos modificam as relações sociais e a forma pela qual se organizam os assentamentos internamente e também na criação de relações com as cidades que circundam os assentamentos. Novas relações de trabalho e de sociabilidade são criadas, seja no trabalho na cidade, nos estudos realizados na cidade mais próxima, no trabalho em outros lotes e no envolvimento com as cooperativas e instituições que promovem políticas de desenvolvimento rural. Nossa hipótese é a de que dentre a juventude rural, mesmo neste mundo rural em transformação, ainda existem traços do modo de vida camponês, e que, esses traços influenciam na construção dos projetos de vida e nas estratégias reprodução social. Pensar o lugar da Juventude Rural no Brasil e a sua inserção social, seja nos aspectos relativos ao trabalho, na sua relação com a família, seja no cotidiano da vida nos assentamentos rurais, ou também quais são as interpretações que a ciência criou para estabelecê-la como categoria, são pontos balizadores de nossa pesquisa.

 

Representações sociais de autonomia e autogestão: catadores de materiais recicláveis e apoiadores da Coopervida, São Carlos/SP (Letícia Dal Picolo Dal Secco de Oliveira)

O desenvolvimento de organizações econômico-solidárias no Brasil como forma de superação dos processos de exclusão e precarização do trabalho acarretados pelas reestruturações produtivas e intensificados entre os anos 1980 e 1990, apresenta contradições que se destacam em estudos realizados no campo da psicologia social. Elas se referem às transformações de sentidos e identidades dos sujeitos inseridos nessas organizações pela interiorização de valores econômico-solidários, ao mesmo tempo em que elas possuem organização e relações internas influenciadas pela estrutura hegemônica de ideologia capitalista. A interação com os apoiadores tem sido apontada como uma potencial contribuição para que esses novos valores e princípios circulem no ambiente da organização através de espaços de comunicação e como explicação para justificar as apropriações sobre eles pelos trabalhadores, ainda que individualmente. Em cooperativas de catadores, essas situações também são destacadas e agravadas pelas condições materiais e simbólicas precárias de trabalho e vida que eles possuem, decorrentes dos processos de exclusão, que resultam em sentimentos de sofrimento, culpa e vergonha e dificultam a significação das novas relações propostas. O mote principal das potencialidades da economia solidária, refere-se ao ganho de autonomia dos sujeitos, que possibilita o desencadeamento de processos de autogestão, o que é criticado no âmbito de pesquisas que consideram que as organizações dessa natureza reproduzem as relações de exploração capitalistas por terem sido incluídas perversamente na competitividade do mercado econômico, o que indica a existência de disputas teóricas que só podem ser desveladas pela compreensão do que ocorre na prática. Considerando que o estudo das representações sociais contribuem para a compreensão de mudanças identitárias e de sentidos que ocorrem pelas negociações ocorridas em processos dialógicos, considerando as capacidades cognitivas e contexto de todos os envolvidos, bem como para elucidar questões conflituosas e motivos de tensão na esfera pública, considera-se que compreender as representações sociais de catadores e apoiadores sobre autonomia e autogestão relacionadas à economia solidária possa contribuir para elucidar as contradições existentes nesse campo em disputa, e este torna-se o objetivo dessa tese. Será realizado um estudo de caso no município de São Carlos-SP, utilizando a técnica da observação direta, registros em diário de campo e entrevistas semiestruturadas individuais e indiretas. O campo de pesquisa central é a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de São Carlos/SP, que possui condições similares às encontradas na literatura, e espaços públicos de interação entre catadores e apoiadores. A análise será temática e os dados serão triangulados. As principais contribuições referem-se às objetivações dessas representações e as considerações sobre sua ancoragem, que no campo prático podem contribuir com a elaboração ações em busca de atingir os objetivos estabelecidos nas relações entre apoiadores e trabalhadores.

 

Economia Solidária e Trabalho Associado pela perspectiva e experiências dos trabalhadores rurais da COOPERNONTE (Ariele Mazoti Crubelati)

A pesquisa em pauta nesse projeto tem por finalidade analisar e compreender o cooperativismo, o trabalho associado, a economia solidária sob o enfoque do trabalho como princípio educativo no contexto do trabalho com um dos empreendimentos econômicos solidários do Vale do Arinos, a Cooperativa Mista Agropecuária de Novo Horizonte – Coopernonte. Para isso, é levado em conta o trabalho desenvolvido pela Incubadora de Empreendimentos Socioeconômicos Solidários e Sustentáveis do Vale do Arinos – IESA que engloba os cursos de Pedagogia e Administração do Campus Universitário de Juara com professores, profissionais técnicos e acadêmicos. A proposta é desenvolver trabalhos juntamente com os cooperados da Coopernonte, na tentativa de analisar e compreender o processo de formação e sentimento de pertencimento para esses sujeitos, quais os princípios da economia solidária, do trabalho associado, autogestão, enfim, para que a cooperativa não se limite a atividades comerciais, mas que se entendam atuantes e conscientes da importância que a economia solidária vem proporcionar alterando do seu modo de produção e permanência no processo produtivo e das relações políticas entre os sujeitos. Entendendo que o foco é a análise das relações e dos sujeitos nesta cooperativa, a questão problema versa em perceber quais representações sobre a economia solidária e trabalho associado dos trabalhadores estão presentes e disputam o processo organizativo da Coopernonte? O objetivo é analisar e compreender os limites e as potencialidades da economia solidária e do trabalho associado na produção da vida material dos associados da Coopernonte para se constituir como cooperativa. Para responder à esse objetivo e alcançar a problemática utilizaremos como ferramenta a observação e entrevista junto à esses sujeitos. Sendo assim, a pesquisa pretende, compreender os limites e as potencialidades da economia solidária e do trabalho associado na produção da vida material dos associados à Coopernonte.

 

Desenvolvimento rural, agricultura familiar e o ajuste fiscal de 2015 a 2018: agentes, discursos, interesses e tomada de decisões (Giovanni Barillari de Freitas)

Este projeto é desdobramento da dissertação de mestrado intitulada “A construção social dos mercados: O Pronaf e a oferta de cestas de alimentos orgânicos agroflorestais no assentamento Mario Lago em Ribeirão Preto/SP” (FREITAS, 2018). Concluímos que a associação do Estado com outras organizações e agentes organizados promovem o desenvolvimento local, pois mobilizam recursos para estruturar os campos da produção e da comercialização desses agentes, impulsionando a formação de redes que se traduzem objetivamente na geração de renda, como o caso da cooperativa Comuna da Terra. Para fins deste projeto, partimos do discurso dos assentados de que as políticas, como o PAA e PNAE, diminuíram com o início do governo de Michel Temer, gerando efeito sobre a geração de renda familiar que ficou limitada somente ao mercado das cestas, que vem sendo construído pelo grupo desde 2015, efetivamente. A partir de questionamentos sobre esses cortes, buscamos saber se eles foram dirigidos para a agricultura familiar como um todo e quando teriam começado, já que a necessidade de reduzir os gastos públicos para conter um déficit fiscal crescente foi anunciada no início do mandato do segundo governo de Dilma Rousseff ao nomear Joaquin Levy como Ministro da fazenda, em 2015. Desta maneira, este projeto tem o objetivo de identificar e analisar a política de desenvolvimento rural orientada à agricultura familiar no contexto do ajuste fiscal no segundo Governo Dilma e Governo Temer, período 2015-2018. A intenção é entender as alterações da política de desenvolvimento rural para além do senso comum de que houve um corte generalizado, partindo da hipótese de que houve a definição de prioridades conforme as disputas no campo político. Para isso, será utilizado o arcabouço teórico-metodológico da sociologia relacional de Pierre Bourdieu, que considera que ao traçar o perfil social dos agentes políticos é possível compreender sua tomada de decisão e seu discurso, sem desconsiderar outras variáveis como fatores políticos e a participação de agentes externos como o Banco Mundial no caso do rural brasileiro, partindo da hipótese que sua influência é determinante para a política de desenvolvimento rural. Para concretizar este objetivo, será feito um estudo prosopográfico dos agentes políticos ligados ao rural, uma analise do discurso desses agentes, sua tomada de decisões e os efeitos no orçamento, nas políticas públicas e na configuração institucional, além de analisar a rede de relações de agentes internacionais que influenciam os agentes internos.

 

Representação Social dos excluídos sobre a modernização agrícola: O caso dos cortadores de cana de Alagoas (Jose Rodolfo Tenório Lima)

O avanço da mecanização da colheita da cana de açúcar em todas as regiões produtoras do país, e, especificamente, a falta de investigações sobre o contexto alagoano para essa situação, que é relativamente recente, desperta a necessidade de uma melhor compreensão de como os canavieiros, que estão ficando a margem do processo produtivo, vivenciam e interpretam essa nova realidade. A questão problema que materializa a indagação presente na proposta investigativa é: Quais as representações sociais que os trabalhadores canavieiros, que foram excluídos do processo produtivo, passam a ter sobre o processo de modernização agrícola? A fundamentação teórica está ancorada em duas áreas: mundo do trabalho canavieiro e a teoria das representações sociais. A pesquisa será desenvolvida a partir da abordagem qualitativa, tendo a estratégia de pesquisa a história oral. Para que os dados da pesquisa possam ser coletados será proposto a construção de um corpus de dados que viabilize o alcance dos objetivos da pesquisa. Esse corpus será construído a partir da utilização da observação, pesquisa documental e entrevistas. A etapa que visa extrair sentido dos dados coletados e possibilitar a compreensão do objeto investigado será conduzida por meio da análise de conteúdo temática. Os procedimentos analíticos serão conduzidos tendo como base a descoberta de núcleos centrais temáticos provenientes do corpus e o exaustivo diálogo com tais achados.   

 

“The Rainbow Business Wants You": um estudo de caso sobre políticas organizacionais de inclusão e respeito ao trabalhador LGBT (Rafael Paulino Juliani)

Apesar das práticas de exclusão psicossocial dos trabalhadores LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) do mundo do trabalho, verificadas até os dias atuais, observa-se um movimento social contra-hegemônico de inclusão e respeito, por meio de poucas, porém significativas, ações de órgãos internacionais, poderes públicos e, até mesmo, por parte da iniciativa privada. Apesar dos preconceitos e violações vivenciados no trabalho, este ainda é representado por pessoas LGBT como ferramenta e meio para transporem algumas barreiras e se autoafirmarem como sujeitos sociais. Diante do paradoxo de dor e de delícia de ser um "LGBTTrabalhador" e ao mesmo tempo em que também se percebe uma crescente e, até mesmo, ativa busca por trabalhadores que não se enquadram no padrões heteronormativos para comporem os quadros funcionais de grandes organizações, verifica-se a necessidade de melhor compreender a existência (ou não) de correspondências entre os valores do sistema de gestão, expressos pelo discurso empresarial, e as práticas organizacionais das referidas empresas. Este projeto objetiva avaliar como, de fato, são implantadas as políticas de inclusão e respeito ao trabalhador LGBT praticadas por uma organização brasileira que, declaradamente, posiciona-se como promotora dos direitos LGBT ao trabalho. Adotar-se-á uma metodologia qualitativa e realizar-se-á um estudo de caso, por meio de observações diretas, entrevistas semiestruturadas e levantamento de documentos oficiais. As informações obtidas junto ao campo serão analisadas por meio de sua triangulação. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam oferecer uma visão crítica sobre o processo de criação e implantação de políticas e práticas de gestão de inclusão e respeito à diversidade LGBT, bem como orientar o trabalho de outras gestões que pretendam posicionar-se favoráveis aos direitos deste grupo social, principalmente, no que tange à garantia ao acesso e permanência no trabalho.